sexta-feira, 13 de junho de 2008

Brasil - maio de 2008 - 7/7

Eu deveria fazer ainda duas palestras em Curitiba, uma na terça e outra na quarta, e assim, minha viagem de duas semanas estava chegando ao fim.

Muitos trechos da estrada de Cascavel até Curitiba eram mais ou menos a mesma coisa do que muitos trechos da estrada de Presidente Prudente até Cascavel, isto é, uma estrada não larga e com muitas curvas.

Eu sempre gostei de Curitiba. Tenho bons amigos por lá; Neri e família, Carlos e Hil, Rodrigo Gorky, são apenas alguns exemplos. Isso sem falar na cidade em si. Curitiba não é quente demais, não é poluída como São Paulo, não é violenta como o RJ, fica relativamente perto do litoral e pode oferecer tudo o que uma cidade cosmopolita oferece! E fica a seis horas de São Paulo (eu, como paulistano que sou, não poderia deixar de observar isso, hehe).
Já tive a oportunidade de visitar Curitiba umas 3 ou 4 vezes antes dessa, todas com a banda com a qual eu tocava na época, ou seja, para fazer show. Mas só dessa vez que pude ver como a cidade é grande. De dentro do ônibus eu via a cidade e aquilo não acabava! Até o desembarque passei por muita coisa, avenidas e avenidas. E tudo muito bem cuidado, bonito.


Na rodoviária Sheila estava me esperando, de avental branco. Sheila foi uma das maiores apoiadoras do meu trabalho com Zooppa no Brasil, ela tinha me ajudado a entrar em contato com algumas universidades de Curitiba e isso realmente foi importante. Fui recebido como é recebido um amigo de verdade, ótimo sinal, meu feeling com Curitiba persiste! ;-)
Ainda à tarde fomos até um bar chamado Mafalda, que ficava perto do hotel (o hotel ficava em frente ao Teatro Guaíra). O bar nem tinha aberto ao público ainda. ela chamou alguém de dentro e acabamos entrando. Ela conhecia todo mundo lá dentro. O bar era muito legal, as pessoas simpáticas e a decoração bem diversa. Foi lá que provei a cerveja mais gostosa de toda a viagem: Original (talvez empatada com a Boehmia de São Paulo, vai...).

Depois Sheila foi buscar sua filha no colégio (Thainan é uma garota muito legal e inteligente) e me deixou na UNIBRASIL, para a palestra, e foi para a casa. Ela me disse que um grande amigo dela, Rafael, iria lá para me conhecer e para ver a palestra, e que depois da palestra ele viria se encontrar conosco.
Entrei no prédio e procurei a coordenadora do curso de publicidade, Maria Paula, e depois de um certo tempo a encontrei. Fiquei intimidado com o tamanho do auditório (muito grande) mas a simpatia da coordenadora e dos outros professores, alunos e funcionários, me ajudou. Aliás, o tamanho dos espaços usados para a palestra foi aumentando cada vez mais: na primeira era uma sala de aula (e mesmo assim a palestra contou com mais de 50 pessoas), depois um auditório super moderno (com umas 180 pessoas) e agora essa auditório grande e com jeito de antigo/tradicional (com capacidade de mais de 300 pessoas).

A palestra foi muito boa, eu já estava ficando esperto com esse negocio de fazer palestra, hehe.
Um dos professores inclusive acompanhou a palestra em tempo real pelo Twitter.

No fim da palestra conheci o Rafael e ficamos conversando com os professores, esperando a Sheila.
Ela demorou, então pudemos conversar bastante. Quando ela chegou, a pé, fomos até o bar Matilde e ficamos por lá um bom tempo. Chegaram mais amigos deles e foi muito divertido.
De lá fomos para o Wonka bar, assistir ao show dos Hillbilly Rawhide.

O Wonka é um bar legal, com jeito de pub e clima de taverna.
O Hillbilly Rawhide é uma banda extravagante, são seis integrantes e eles tocam com intrumentos como banjo, violino, piano, baixo acústico e cajon. O som deles é country, mas com pitadas de rockabilly e rock. 

E isso tudo com um grande teor etílico (também) no ar. O clima no show estava intimista, parecia um sallon, com todo mundo cantando junto e levantando o copo de cerveja. 
O palco era pequeno e a banca mal cabia lá, não sei como fizeram caber os seis integrantes, mais os instrumentos menores, e bateria, um piano (não era teclado) e um baixo acústico. 
Eles tocaram algumas músicas próprias e covers de Hank Williams, Johnny Cash, Ramones, Motorhead e AC/DC, hehe. Muito bizarro.
Cheguei no hotel bem tarde e destruído.


Depois de algumas poucas horas de sono (a insônia foi uma constante nessa viagem), levantei, tomei uma ducha e fui dar umas voltas pelo centro de Curitiba.
Quando voltei ao hotel recebi um SMS da Sheila, me chamando para conhecer seu trabalho.
Ela trabalha numa farmácia, uma farmácia de propriedade de uma funerária (fica do lado da funerária, em frente ao cemitério). La dentro é tipo... uma farmácia mesmo. Mas de dentro da farmácia se vê o cemitério (a porta é de vidro).
Trata-se de um grupo, chamado Vaticano. Sim, Vaticano. Eu achei muito engraçado. Aquela fachada verde enorme com "Vaticano" escrito em branco.

Saímos para almoçar, Sheila me levou até o bar onde onde o Leminski passava grande parte do seu tempo (ao menos ela disse assim). Enquanto ela comeu um belo sanduíche, eu fiquei só na água, a ressaca estava brava.
A vista pela janela, da praça com um pessoal andando de skate (tinha um grande half), parecia me transcender, como se eu estivesse assistindo de fora. E então foi bom. Logo depois de voltar em mim lembrei do Renato, e falei dele para a Sheila.
Saímos do bar (putz, não lembro o nome), começamos a caminhar.
Engatamos em assuntos filosóficos, ela toda esotérica, eu todo agnóstico, ela quase crente, eu quase ateu. Dentro do cemitério, falando da vida e da morte. Sabe, sentido da vida, como viver, saber, entender, sentir etc.
A conversa foi rumando para um antagonismo quase hostil, disfarçadamente amigável.

De repente ela sentou num degrau de um mausoléu. Eu sentei também. Ficamos um pouco em silêncio e logo depois recomeçamos a falar. Então saímos do cemitério e demos a volta nele quase completamente. Do outro lado ela apertou a campainha num portão branco (o muro era verde, eu deveria ter percebido antes). Um senhor com avental branco veio atender, com uma cara estranha. Sheila atacou uma conversa qualquer sobre algum colega de trabalho e foi entrando, me chamando com a mão.


Entrei e, logo depois do portão, ainda no quintal, vi o primeiro cadáver. 
Numa maca, pálido e magro. Era uma senhora, estava nua, parcialmente coberta por um lençol branco.
Entrei no que parecia ser uma garagem e vi uma porção de avisos na parede (sulfites com mensagens do tipo “a cabeça deve estar para o lado de fora”), mais dois passos em direção à porta onde estava Sheila, encostada, conversando calmamente com o senhor, e avistei outro cadáver: um homem, também magro, também pálido, com os pés longos, nu, numa maca. 
E assim que cheguei ao lado dela, vi o que o senhor estava fazendo. 
Ele estava costurando o peito de um terceiro cadáver. 
O ruído daquilo, misturado com a conversa, evidentemente me deixou aturdido.

Saindo de la, enquanto ela me olhava satisfeita, com uma cara quase feliz, eu disse o mais calmamente possível: “vou escrever sobre isso”. 
E vou, ainda vou, mesmo.

Na farmacia fiquei um tempo sentado vendo a Sheila trabalhar e perguntei onde eu poderia encontrar uma rede wireless, pois eu precisava ver os emails etc. Primeiro tentamos usar a rede da Vaticano, como não deu certo saí em direção a um tal Shopping Mueller.
O Mueller tinha uma conexão boa e assim sentei no banquinho da praça de alimentação por algum tempo.

De volta à farmácia já estava quase na hora de ir para a Universidade Positivo, onde seria minha ultima palestra. O taxista que me levou à Positivo era super-fã do Inter de PoA e de Rap (!).
A palestra foi legal, mesmo com os probleminhas técnicos iniciais.

Foi muito ruim assistir aos últimos minutos da derrota do SPFC para o Fluminense na Libertadores numa barraca de hotdog no centro de Curitiba. 
Com o rapaz que me serviu tentando disfarçar a risada ao me ver desesperado, e com um outro, cliente, tirando sarro. Lamentável.
De la fomos ao James e vimos aquela fila indigna, ridícula. Depois de alguns minutos escutando conversa indie dos outros decidimos ir ao Circus, que tinha reaberto e que ficava ali pertinho, com uma fila muito menor.

No dia seguinte eu estava fechando a conta do hotel, para ir à rodoviaria, e quem me aparece? Sheila, de carro, com a filha no banco de trás e a mãe no da frente. Fomos até o apartamento onde elas moram e almoçamos bem. Foram muito simpáticas.
Acabei desistindo de voltar para São Paulo de ônibus (ideia da Sheila). Pedi uma carona até o aeroporto.


Comprei a passagem como se compra uma passagem de ônibus, uma sensação estranha para mim.

Termino esse diário dentro do avião, avistando primeiro a ilha de São Vicente, depois a Serra do Mar (que não é como eu imaginava) e por fim a cidade de São Paulo.
Algo indescritível. Inesquecível.

Um comentário:

She Python disse...

hahhhhhhhhhhh cadê vc figura...?