segunda-feira, 2 de junho de 2008

Brasil – maio de 2008 – 1/7

O táxi passou na porta de casa pouco depois das 5 da manhã.
Em meia hora eu já estava fazendo o check-in.

O vôo de Veneza a Paris teve algum atraso, mas como eu ainda estava sonolento e tal, nem me dei conta. Foi pegar o Ecstasy e dormir, depois de uma ou duas páginas.
Não adianta, quando eu não gosto do livro de cara, sua leitura se torna uma tortura. Não que Ecstasy seja ruim ou mal escrito, pelo contrario, há partes muito legais, mas depois de Trainspotting eu fiquei meio brochado com esse...

Foi no aeroporto de Paris que percebi que eu poderia perder o vôo para São Paulo.
Corri, perguntei, rodei, até que consegui encontrar o local certo, bem em cima da hora.
Pouco antes de entrar no avião uma ligação da Isabel me deixou (mais) emocionado.

A viagem foi realmente estranha, eu estava morrendo de sono/cansaço e preocupação, pois:
1. vinha dormindo realmente muito pouco nos últimos dias (a organização da viagem tomou muito tempo e esforço);
2. estava chateado por ter que ficar longe da Isabel e do Lauro;
3. estava apreensivo com as palestras que eu deveria fazer no Brasil.

Na hora do almoço o destino (ou melhor, a Airfrance, hehe) me aprontou o golpe de (não) misericórdia:
Todas as opções do menu continham pepino.
Você consegue imaginar o cheiro de pepino que exalava dentro daquele avião?
E eu sou alérgico a pepino.
Sério, eu passo mal, tipo dor de cabeça, mal-estar, ânsia mesmo.
Para tentar superar esse problema optei primeiro por provar um dos pratos com o pepino e, depois, visto que fiquei mal, mudei de estratégia e passei a pedir uma garrafa de vinho tinto para todo/a comissário/a que passava.
O objetivo era o de me tranqüilizar e quem sabe dormir, pois sempre que estou passando mal eu procuro dormir, e quase sempre acontece que quando acordo me sinto melhor.

Depois da quinta garrafa percebi que a tática do vinho não estava surtindo o efeito desejado, então decidi assistir um filme.
Escolhi o Bucket List, com o Nickolson e o Freeman, que era o primeiro filme da lista, assim meio no escuro. E não sei se por causa da viagem sem a Isabel e sem o Lauro, se pelo mal-estar causado pelo pepino, se pelas garrafas de vinho, mas o filme me bateu.
Bateu bonito.
Chorei muito e sem parar, quase sorrindo ao mesmo tempo. Ainda bem que não tinha ninguém sentado do meu lado, pois, apesar de eu não chorar fazendo escândalo, qualquer pergunta do tipo “tudo bem com você?” só iria piorar minha situação.
Enfim.
Só então consegui alternar as horas restantes de viagem, de rosto inchado, entre sonecas e sons no mp3 player (The Fall, Any Wise Pub, Depeche Mode, Versus, Portishead, algumas coletâneas indiepop e shoegazer, algumas bases minhas e Peter, Bjorn and John).


Lá estava meu pai me esperando, no aeroporto.
Durão feito sempre, mas logo vi que algo estava melhor, que ele estava feliz com minha presença, e isso tornava mais complexa minha felicidade em revê-lo.

Estranhei pra valer São Paulo. Logo eu que sempre achei poser ou blasé quem volta ao Brasil depois um tempo fora e diz que notou uma diferença enorme etc e tal. Mas percebi que pode acontecer mesmo. Ao menos comigo foi forte (e olha que não foram 40 anos fora, foram 4), estranhei um monte de coisas: Aquele tráfego infernal, os muitíssimos motoqueiros passando a toda e buzinando ininterruptamente, os flanelinhas, os lavadores de vidro e os vendedores de balas no semáforo, os muitos buracos nas ruas, tanta gente, avenidas largas, prédios altos, pontes e viadutos etc.
Mas mesmo assim reconheci tudo aquilo, é estranho sentir-se em casa depois de 4 anos, sendo que sua casa está te esperando do outro lado do oceano.

No apartamento do meu pai já estavam meu irmão do meio, minha cunhada (sua mulher) e minhas duas sobrinhas lindas, de 5 e 2 anos. Depois do jantar ficamos conversando, rindo, jogando truco, bebendo cerveja e/ou cuba e matando a saudade. Aliás, que saudade também da cerveja brasileira!No dia seguinte meu pai me levou de carro para resolver coisas relacionadas a documentos e bancos, depois comemos juntos na churrascaria perto do prédio onde ele mora (me entupi de carne – boa!) e, já de volta no apartamento, fiquei horas revirando o monte de coisas que eu tinha deixado guardado lá. Maior seção flashback, hehe.

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